Comprando Um Smartphone Nos Dias De Hoje
Lembro-me da época em que os celulares começaram a virar pequenos computadores de bolso. Fazer ligações e enviar mensagens passou a ser uma função secundária e outros features como câmera, GPS e capacidade para rodar jogos eram grandes diferenciais na hora de escolher o seu.
O ano era 2008 e eu queria me atualizar, não existiam tantas opções quanto existem hoje, mas marcas como Motorola, Sony Ericsson, Nokia, HTC e Apple ofereciam os melhores aparelhos.
Pode parecer exagero, mas em 2008 o mundo era muito diferente de hoje. Não existiam blogs especializados em comparativos ou gente fazendo vídeos explicando tudo como temos hoje, a rede social usada no Brasil era o Orkut e a TV ainda tinha grande poder de influência nas pessoas. Foi justamente pela TV que eu conheci o Nokia N95, a marca investiu pesado em marketing no Brasil e a MTV apresentava um programa em que o João Gordo viajava o mundo e todas as filmagens eram feitas pelo celular da Nokia. Aquilo me impressionou, meu celular antigo até filmava, mas não com aquela qualidade.
Outra opção que me interessava era o iPhone, eu não conhecia ninguém que tinha um e a Apple não fazia propaganda no Brasil, mas era impossível não tomar conhecimento do sucesso que o recém-lançado smartphone fazia, ele era mais caro, mas não tão mais caro que o celular da Nokia.
Nokia N95 x iPhone 3G, navegar na internet com esse teclado numérico era uma tortura
Acabei fazendo o que era padrão na época e fui procurar ajuda em comunidades do Orkut, entrei nas comunidades do iPhone e do N95 e lancei a pergunta “N95 ou iPhone, qual devo escolher?”.
Na comunidade do iPhone, a dúvida ofendeu o pessoal, ninguém me explicou as vantagens e desvantagens, muito pelo contrário, fui xingado de tudo quanto é nome por sequer pensar em outro aparelho que não fosse o celular da Apple.
Na comunidade do N95 foi diferente, me explicaram todas as funções do celular e as vantagens que ele tinha sobre o concorrente, o pessoal parecia entender muito do assunto e isso foi determinante na minha escolha. No dia seguinte, adquiri o meu N95.
Imagem que o pessoal da comunidade do N95 me mandou quando eu perguntei se ele era melhor do que o iPhone
Fui até feliz por um tempo, até ter contato prolongado com um iPhone e perceber que o pessoal lá do Orkut, apesar de arrogante e ignorante, tinha razão. Era uma burrice a comparação, nem dava pra considerar o N95 um smartphone após compará-lo com o Apple, principalmente por causa do sistema operacional, que no iPhone era o até hoje consagrado iOS e no Nokia era Symbian, que pouco tempo depois parou de existir. A única coisa que ele tinha de realmente superior eram as câmeras de 5 megapixels com flash, mas na época o negócio era usar o celular para entrar na internet, enquanto o iPhone tinha o teclado na tela touch, o N95 ainda tinha um teclado numérico!
Quem é um pouco mais velho vai se lembrar como era terrível escrever nesses teclados, já imaginou navegar na internet tendo que digitar nisso?
Esse tinha sido, até então, o meu maior arrependimento comprando um celular. Isso durou até o dia em que eu tive a infeliz ideia de comprar um Nokia Lumia 950 com o sistema operacional Windows Phone (eu realmente gostava da Nokia), uma porcaria gigantesca.
Lumia 950 com Windows Phone, o pior celular que eu já tive
De lá pra cá, a única coisa que não mudou foi a relevância do iPhone. Muitas das marcas que eram referência em 2008 perderam mercado e outras nem competem mais, mas o que mais chama a atenção foi a ascensão de marcas chinesas como Xiaomi e Huawei.
Se na década passada produtos chineses eram considerados meras cópias descartáveis de produtos de sucesso, hoje eles são muito bem aceitos e até desejados, tudo isso graças ao investimento em qualidade e o excelente custo-benefício que eles oferecem. O abismo que existia entre o meu N95 e o iPhone em questão de tecnologia não existe mais entre os celulares top de linha das principais marcas, e a grande diferença está no preço, pois um iPhone pode custar o dobro ou até o triplo do preço de um chinês com especificações parecidas.
Xiaomi Black Shark 2 Pro 12gb de RAM e câmera de 48mp pela metade do preço de um iPhone 11
Se ainda existissem as comunidades do Orkut e eu pudesse fazer a mesma pergunta substituindo o N95 por um Xiaomi top de linha, provavelmente eu obteria um resultado parecido com o de 2008: donos de iPhone dizendo que a comparação é ridícula e donos de Xiaomi me mostrando o porquê eu deveria dar uma chance para a marca, aliás, donos de Xiaomi viraram até meme pelo seu esforço em “converter” proprietários de outros smartphones para a marca chinesa.
Ao contrário de 2008, quando eu optei pelo Nokia baseado em propagandas e relatos de usuários, hoje temos acesso a milhares de textos e vídeos fazendo comparações entre os celulares. Assim fica mais fácil tirar uma conclusão sem ser influenciado por fãs fervorosos, a não ser que você resolva ler os comentários dos comparativos, lá você vai encontrar uma guerra entre os fãs das marcas que deixaram de ser consumidores para virarem verdadeiros torcedores.
É inegável que o custo-benefício das chinesas é enorme, mas esse sucesso se deve justamente pelos preços absurdos praticados pela Apple. Se há 10 anos ele custava um pouco mais, hoje essa diferença extrapolou, mesmo em países onde o custo de vida é melhor eles são considerados carros, aqui no Brasil é impraticável - um iPhone 11 mais barato custa quase o dobro de um Xiaomi top de linha, sem oferecer grandes vantagens que justificam o preço.
Para conseguir um preço melhor nesse iPhone, só em uma Black Friday do KaBuM!
Se um chinês custasse o mesmo que um iPhone ou vive-versa, pouca gente optaria pelo chinês, o que contribuiu para essa ascensão, principalmente no Brasil, foi justamente o fato do smartphone chinês ser mais acessível.
Porém, quem se mantém na liderança do mercado no Brasil e no mundo é a coreana Samsung. Marcas coreanas nunca tiveram resistência no Brasil, chegaram vendendo TVs e outros aparelhos eletrônicos e, em pouco, tempo ganharam o mercado. Muita gente comprava LG e Samsung sem nem saber a origem.
As marcas mais vendidas do mundo
Primeiro lugar
Segundo dados do IDC e da StatCounter, empresas que se dedicam à pesquisa de mercados do setor de tecnologia, a maior vendedora de smartphones do mundo é Samsung, com uma fatia de 21% do mercado.
No início de 2018, a fabricante sul-coreana chegou a ser líder absoluta do ranking, tendo vendido cerca de 23% dos aparelhos celulares naquele momento, a partir de fortes estratégias de marketing e modelos direcionados para os mais diversos públicos.
A Samsung conta com uma grande gama de celulares em diversos preços e domina o mercado
Segundo lugar
Na segunda posição está a marca chinesa Huawei. Com 15,9% do mercado, a fabricante é uma das que mais crescem em países da Ásia. Em menos de um ano, a Huawei pulou da terceira posição, com 10%, para a segunda. Segundo especialistas em tecnologia, o salto se deu graças ao investimento na qualidade dos aparelhos.
Huawei P30, um chinês que virou sonho de consumo
Terceiro lugar
Para a surpresa de muitos, a Apple é a terceira do ranking. Mas nem sempre foi assim. Há alguns anos, a marca figurou o topo da lista de empresas que mais comercializam smartphones. No entanto, por conta dos elevados preços dos iPhones, a empresa hoje detém apenas 12,1% do mercado.
Mesmo com uma fatia menor, a Maçã ainda consegue manter uma margem de lucro em alta, graças aos produtos exclusivos e outras estratégias de marketing que se tornaram referência no mercado.
iphone 11s Pro Max e suas câmeras controversas, nas versão de 512gb, ele custa R$9.599
Quarto lugar
Com 9,5% de market share, a Xiaomi aparece em quarto lugar no ranking de empresas que mais vendem celulares no mundo. Trabalhando com smartphones top de linha mais baratos que suas concorrentes, a empresa se destaca pela relação custo-benefício de seus aparelhos celulares.
Xiaomi Mi9, a quarta marca mais vendida no mundo é a chinesa mais querida no Brasil
Quinto lugar
A quinta posição também é de uma fabricante chinesa. Pouco conhecida entre os brasileiros, a marca Oppo detém uma fatia de cerca de 8,6% do mercado de vendas de celulares.
Assim como a Xiaomi e outras fabricantes asiáticas, a Oppo também aposta em aparelhos acessíveis, com o objetivo de garantir um alto volume de saída dos seus produtos.
Outra estratégia utilizada pela marca é a variedade de produtos. Assim como a Samsung, líder do ranking, a marca chinesa atende aos mais diferentes públicos, com celulares de todas as faixas de preço.
A Oppo é a quinta marca mais vendida no mundo, mas é pouco conhecida no Brasil
As marcas que mais vendem smartphones no Brasil
No Brasil, a Samsung lidera tranquilamente com 40,35% do mercado, a Motorola vem em segundo, Apple em terceiro e LG em quarto lugar. Porém, como grande parte dos celulares chineses são importados diretamente de sites da China ou comercializados pelo mercado informal, é difícil saber em qual colocação eles ficam nesse ranking, só recentemente essas marcas passaram a ser comercializadas formalmente no país.
Apesar de não estar entre as 5 mais vendidas no mundo, a Motorola ainda faz sucesso no Brasil
Mesmo após ser ultrapassada pela Samsung e Huawei, a Apple ainda é a marca que dita as tendências do mercado, até algumas escolhas controversas e criticadas, como a abolição da entrada de fone de ouvido e o “notch” na tela para abrigar a câmera dianteira foram copiadas pela concorrência posteriormente. As três câmeras traseiras que sofreram duras críticas também devem ser replicadas pelas outras marcas num futuro não tão distante.
A verdade é que a Apple passou a ser mais um produto de grife do que um produto revolucionário como era na década passada. Apesar do seu iOS exclusivo e adorado pelos fãs da marca, as chinesas e coreanas não devem nada em termos de tecnologia, não existe mais aquela diferença absurda que existia antigamente. Mas a marca ainda detém um grande nível de status, você pode até encontrar um precinho um pouco mais camarada em uma Black Friday do KaBuM!, mas mesmo assim, você vai estar pagando mais pela marca do que pelo produto.
Black Friday, sua única chance de pagar mais barato em um iPhone 11, mas compre online no KaBuM!, senão vai ser esse desespero aí da foto HuAsuHAsuAhs